Localização: Manaus – AM
Período de restauração: Janeiro/2010 a outubro/2013
Data de construção: 1882
Área coberta: Aproximandamente 3.400m²
Construtor: Alarico José Furtado
Proteções existentes: Federal – Processo n. 1179-T-85 / Livro de belas artes: n. 584 – 1/7/1987 / Livro Histórico: n. 514 – 1/7/1987
Obras de restauração: Arquitetônica com adaptação das instalações elétricas, hidráulicas, de acessibilidade e adaptações às necessidade atuais de um mercado municipal, com bancas e boxes adequados
Características Gerais
Seu projeto inicial foi inspirado no Mercado de Les Halles, em Paris. A estrutura de ferro fundido é ricamente trabalhada em estilo Art Nouveau, muito ao gosto da época. Vitrais coloridos compõem os frontões, inferindo grande beleza ao conjunto.
Atualmente o mercado é composto de seis pavilhões, duas bomboniéres e o prédio principal. Todos os edifícios foram construídos basicamente com apenas dois materiais: a pedra e o ferro fundido. A estrutura metálica foi integralmente trazida da Europa. O ferro fundido foi aplicado na estrutura e cobertura dos pavilhões que foram cobertos por telhas tipo escamas, feitas de folha de flandres, um material laminado composto por ferro e aço e revestido por uma camada de estanho para evitar a corrosão.
A pedra foi aplicada nas alvenarias dos Pavilhões da Carne e do Peixe, e na fachada frontal, voltada para a Rua dos Barés, a pedra utilizada para execução das alvenarias foi a pedra jacaré, um tipo de arenito quartzoso, rico em óxidos de ferro que lhe conferem a cor avermelhada característica. Esta pedra é muito comum na região amazônica e muito utilizada em alicerces, fundações, muros e alvenarias de importantes edifícios como o Mercado e o Palácio de Justiça de Manaus.
O Pavilhão Central foi internamente calçado com a pedra de Lioz e possui área interna de cerca de 1.400 m². Os Pavilhões laterais, da Carne e do Peixe, possuem área de 351 m² cada, o da Tartaruga 306 m². No total, o mercado possui uma área útil com cerca de 3.400 m² ocupando um terreno com 5.245 m² excluindo-se a praça frontal ao Rio Negro e as bomboniéres.
Histórico
Em Manaus, até a segunda metade do século XIX, os produtos alimentícios eram trazidos dos municípios próximos e comercializados à margem do Rio Negro em um local conhecido como Ribeira dos Comestíveis, ali eram vendidos produtos como farinha, peixes, frutas, legumes, grãos, além de mercadorias produzidas na região.
O crescimento da cidade, proporcionado pelo chamado período áureo da borracha, propiciou duas condições que se mostraram fundamentais para a criação do Mercado Adolpho Lisboa: o desenvolvimento econômico e o contato direto com a Europa. Nesta época, surtos epidêmicos nas cidades européias trouxeram à luz o debate sobre a necessidade iminente de políticas de saúde pública e incitou a criação das teorias e concepções higienistas que culminaria, entre outras coisas, na criação de mercados públicos de abastecimento. Assim entre o final do século XIX e o início do século XX, diversas cidades construíram seus mercados, entre elas: Londres, Berlim e Paris. Isso repercutira no Brasil com a criação dos mercados municipais de São Paulo e Manaus.
O primeiro passo para construção do Mercadão, como hoje é carinhosamente conhecido pela população manauara, foi dado em 1881, na gestão do presidente Satyro de Oliveira, com a desapropriação de um terreno de 5.400m2, próximo ao porto, situado na Rua dos Barés. Efetivamente, a construção de um mercado coberto e adequado aos padrões sanitários e comerciais, se inicia em 1882, no governo do presidente Alarico José Furtado.
Construído pela empresa Backus & Brisbin, que atuava em Nova Orleans (EUA), no México e em Belém, no Pará. Era composto de um galpão coberto e uma fachada de alvenaria de pedras voltada para o Rio Negro em cujo frontão, em estilo neogótico, ficava instalado um relógio de fabricação alemã. A estrutura metálica foi totalmente importada de Liverpool, encomendada por catálogo da empresa Francisc Norton Engineers. Esta parte é hoje o Pavilhão Central do Mercado que foi inaugurado em 15 de julho de 1883.
Em 1890 o Mercado é ampliado com a construção de mais dois pavilhões laterais. Esta ampliação entretanto não foi suficiente para suprir a crescente população da cidade e em 1902 foi encomendado, da empresa Walter MarcFarlane, de Glasgow, Escócia, a estrutura de ferro do pavilhão posterior, hoje Pavilhão das Tartarugas. Esta nova estrutura se difere das demais por ter a cobertura em quatro águas, iluminação por lampiões de querosene e por possuir as laterais fechadas. É nesta ampliação que o mercado recebe sua fachada voltada para Rua dos Barés, sendo concluída em 1906.
Atualmente o Mercado Municipal Adolpho Lisboa possui seis pavilhões de ferro fundido: o Central; dois laterais: da Carne e do Peixe; um posterior: o da Tartaruga e dois pavilhões menores instalados lateralmente nas extremidades da fachada voltada para o Rio Negro: os pavilhões Amazonas e o Pará.
A pedra de Lioz
O Lioz é um tipo raro de calcário originário de uma região próxima à Lisboa, no concelho de Sintra em Portugal. Esta pedra formada no período Cenomaniano, no cretáceo superior, há cerca de 95 milhões de anos, originou-se em ambiente marinho pouco profundo, de águas quentes e límpidas, propícias à ploriferação de organismos de esqueleto carbonatado, típico de formadores de recifes.
Sua composição é rica em biosparite e microsparite, sendo uma rocha do tipo calcário bioclástico (formado por organismos vivos) compacto, quase sempre bege mas variando desde o cinza-claro até o rosado.
Hoje raro, este material era abundante em Portugal durante o período áureo da borracha em Manaus, por esta razão, e por sua grande densidade, este material era trazido, como lastro, nos porões dos navios que levariam a borracha para Portugal. Ao carregar os navios com a borracha brasileira, as pedras eram deixadas no porto. A então abundância do material, aliada a sua durabilidade e beleza, contribuíram para o largo uso em revestimentos, principalmente de piso em diversos edifícios importantes em Manaus, como o Paço Municipal e o Palácio Rio Branco.
O Restauro
O mercado foi completamente restaurado, desde os pisos até a sua cobertura, obedecendo aos preceitos internacionalmente aceitos para o restauro de edifícios históricos. Cada intervenção foi pensada no sentido de se manter a originalidade e a unidade arquitetônica do conjunto.
Estrutura de Ferro
O processo de restauro das estruturas de ferro fundido passou pela remoção das camadas antigas de tinta e de oxidação através do processo de jateamento com esferas metálicas até a exposição total do ferro, que foi imediatamente protegido por uma camada de zarcão evitando nova corrosão. As peças muito degradadas foram substituídas por peças novas, que foram produzidas utilizando moldes das estruturas originais e a parte removida foi utilizada como material de fundição para nova peça. Desta forma o material original foi reintegrado à estrutura.
Cobertura
Originalmente fabricada em folha de flandres, as telhas em formato de escamas foram cuidadosamente removidas e aquelas que estavam em boas condições foram limpas e tiveram sua camada de tinta removida e então receberam fundo e nova tinta. Dessa forma, puderam ser mais uma vez instaladas no seu local de origem. Parte das telhas foram fabricadas com aço galvanizado, por essa razão, esse material foi utilizado na confecção das telhas que precisaram ser substituídas, que utilizaram como molde as telhas originais.
Pedras
Material constitutivo das paredes do prédio principal e da alvenaria de base dos pavilhões, a pedra jacaré é bastante comum em Manaus. Para a restauração das alvenarias foi retirada toda a camada de revestimento de argamassa a fim de localizar os danos ocorridos com o passar dos anos. As pedras degradadas foram recortadas e preenchidas posteriormente com obturações do mesmo material. As formas originais, já desgastadas, foram recompostas trazendo de volta a unidade do edifício.
As pedras de Lioz que calçavam os Pavilhões da Carne e do Peixe, foram retiradas e substituídas por piso cerâmico atendendo às diretrizes sanitárias do município. As pedras retiradas foram então reutilizadas para a restauração do piso de lioz das calçadas e área externa do mercado.
Além das restaurações que restituíram a beleza do edifício, diversas adaptações foram realizadas para adequar o mercado às necessidades atuais, tais como a revisão total das instalações elétricas, atualizações de acessibilidade como elevadores e rampas que propiciam o amplo uso do espaço e a criação de restaurantes no segundo pavimento do edifício principal.
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